Visão e audição: quando se perde um sentido, outro pode compensá-lo?

Concept of health care with hearing aid on gray wooden backgroun

Você provavelmente já ouviu dizer que uma pessoa surda enxerga muito melhor que uma pessoa que não é surda, ou que uma pessoa cega teria a audição muito melhor que alguém que não é cego. 

Por isso, temos uma crença que pessoas surdas ou cegas conseguem compensar um sentido que não possuem por outro. Mas afinal, isso é realmente possível? O que dizem os cientistas com relação a essa “crença”?  

De acordo com os especialistas ouvidos pelo Viva Bem é possível, mas não exatamente dessa forma. Quer dizer que, não são os olhos que vão perceber que os ouvidos estão deficitários e trabalhar dobrado para compensá-los, e vice-versa. Não, como órgãos sensoriais só servem para captar estímulos externos e transmiti-los como impulsos nervosos que geram sensações. 

A compensação toda compete ao cérebro, como explica Júlio Barbosa Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião, com especialização pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles): “Temos regiões cerebrais que cuidam de cada sentido e se um deles não estiver presente, por avaria de órgão sensorial ou de sua capacidade, como em casos de AVC, essas regiões podem ocupar/cumprir outras funções”.  

 

Como ocorre a compensação? 

Com ajuda de profissionais, incentivos, dedicação, treinos e mudança de hábitos é possível alcançar uma compensação modulada pelo sistema nervoso central de algum sentido e melhorar comunicação e interação com o ambiente externo. Isso é necessário para se obter qualidade de vida e evitar prejuízos, sendo o principal o declínio cognitivo, que pode levar o sujeito com déficit sensorial, sobretudo mais velho, a quadros de demência e depressão. “Portadores de deficiência auditiva profunda podem ser capazes de utilizar a área do cérebro responsável pela audição para melhorar a acuidade visual, principalmente a visão periférica, porém isso pode levar algum tempo”, explica Andy Vicente doutor em otorrinolaringologista pela Unifesp (Universidade Federal Paulista) e do Hospital Cema, em São Paulo. 

Cientistas da Universidade de Western Ontario, no Canadá, descobriram que o córtex auditivo, área do cérebro responsável por, entre muitas funções auditivas, a de detectar sons periféricos, pode ser reaproveitado para a visão periférica. Assim, sem poder ouvir um veículo que se aproxima de longe, um surdo poderia avistá-lo de lado com seu campo visual aguçado.  

Segundo o estudo canadense, adultos surdos podem reagir a objetos em sua visão periférica mais depressa do que adultos ouvintes, enquanto crianças surdas reagem mais devagar do que ouvintes. Leonardo Nicioli, oftalmologista do Cema, explica que essa diferença de resposta, entre adultos e crianças, tem a ver com a idade, que influencia diretamente a percepção. “Se uma criança nasce cega ou perde a visão cedo, a região do córtex cerebral, responsável pelo processamento neurológico da visão, não vai ser estimulada como deveria, o que ocorre geralmente até os sete anos. Diferente do adulto, cujo córtex cerebral já atingiu seu ápice de desenvolvimento. 

 

Fonte: Viva Bem 

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