A relação de visão, audição e olfato com demência

A última conferência internacional anual da Associação do Alzheimer (AAIC 2023) se encerrou no dia 20 de julho de 2023 e o primeiro assunto da conferência diz respeito à relação entre o declínio de nossos sentidos e o risco de demência, objeto de palestra de Natalie Phillips, PhD e professora do Departamento de Psicologia da Concordia University (Canadá).  

Problemas de audição, visão e olfato são comuns em idosos, mas o erro é minimizar a situação, como se fizessem parte do “pacote velhice”. Pelo menos 65% das pessoas acima dos 60 anos experimentam perda de audição, mas, em média, elas levam de 10 a 20 anos para buscar ajuda, e só passam a usar aparelho depois dos 70. De acordo com a especialista, distúrbios de olfato também são prevalentes com o envelhecimento: 

“Entre os 60 e 69 anos, 18% apresentam esse quadro e, acima dos 80, são 60%. A disfunção olfativa costuma preceder o declínio cognitivo e, entre os pacientes com Alzheimer, se manifesta em até 90% dos indivíduos. Há evidências suficientes para se testar o olfato em idosos”. 

Envelhecer representa um dos principais riscos para doenças do olho, como degeneração macular, retinopatias e glaucoma, mas não há estudos que relacionem o comprometimento da visão com demência. No entanto, lembra a doutora Phillips, “não enxergar pode levar ao isolamento, outro fator de risco, e melhorar a visão incrementaria o quadro cognitivo”.  

O que virá por aí: cientistas investem no potencial de imagens da retina como biomarcadores para o mapeamento do Alzheimer. 

No AAIC 2023, foi divulgado o maior estudo para avaliar se aparelhos de surdez podem diminuir o risco de demência, mostrando que o uso do equipamento por três anos consecutivos reduziu o declínio cognitivo dos pacientes, que sofriam de perda auditiva entre leve e moderada, em 48%. 

E os dois assuntos que faltavam: 

  • Intestinos como biomarcadores: há diversas pesquisas nesse campo e começo com a que aponta a prisão de ventre crônica (um intervalo de três dias ou mais para ir ao banheiro) como um indicador de comprometimento cognitivo – é como se tal condição “envelhecesse” a mente em três anos. Cerca de 16% da população mundial sofre de constipação e a prevalência é maior entre idosos, causada por sedentarismo, dieta pobre em fibras e efeitos colaterais de medicamentos. Os cientistas investigam ainda bactérias da microbiota, que tanto podem proteger o sistema nervoso quanto estarem associadas ao risco aumentado para demência. Eles descobriram que uma alta concentração de proteínas beta amiloide e tau no cérebro era acompanhada de baixos níveis das bactérias intestinais do gênero Butyricicoccus e Ruminococcus, e uma quantidade maior de bactérias Cytophaga and Alistipes. Um número menor de bactérias protetoras facilitaria a passagem de toxinas pelas paredes intestinais. 
  • Detecção através de exame de sangue: os cientistas afirmam que houve um avanço significativo na área de testagem e um furinho no dedo – como muitos portadores de diabetes fazem diariamente – será capaz de indicar as alterações provocadas pelo Alzheimer com uma acurácia acima dos 80%. Enquanto os atuais procedimentos de detecção são caros e invasivos, como ressonância magnética do cérebro e análise do líquido cefalorraquidiano, o exame poderá ser feito em casa ou em centros de atenção primária à saúde. 

Fonte: G1 

Share Button

Você pode gostar...

Deixe um comentário