Atraso na fala da criança deve ser motivo de preocupação?

atraso na fala

O uso excessivo de telinhas e o estilo de vida das famílias podem contribuir para que as crianças demorem cada vez mais para se comunicar verbalmente.

Não é só pela fala que a criança pode se comunicar, por isso, até mesmo os bebês têm capacidade de se comunicar, seja por gestos, risadas, olhares e até mesmo sons abstratos. A partir dos dois anos de idade, normalmente a criança forma as primeiras frases. Aos cinco, a fala já deve fluir sem dificuldade, porque nesta idade o padrão de linguagem é semelhante ao de um adulto.

Em que a idade a criança começa a falar?

Há uma crença de que tudo bem se a criança não falar antes dos três anos, de que vale a pena esperar, porém a linguagem é um indicador importante do desenvolvimento neurológico. Se a criança tem dificuldade, talvez não consiga atingir seu potencial e pode ser um tempo precioso de intervenção que não está sendo aproveitado. Até os quatro anos, a criança tem uma “janela de linguagem intensa”, mas ela é muito intensa de 0 a 18 meses, é quando os neurônios crescem e formam conexões, por isso, a reação é melhor, os neurônios estão mais desocupados. Depois dessa idade o desenvolvimento é mais lento.

O médico recorda que a comunicação não-verbal das crianças também deve ser notada, já que mesmo sem falar, é preciso verificar se a criança se comunica, por exemplo, aponta o dedo, faz mímica, expressa emoção.

O conceito de linguagem é amplo, a gente se comunica de várias formas com gestos e emoção.

Antes de iniciar uma intervenção, é preciso descartar problemas genéticos, psiquiátricos e auditivos por meio de exames clínicos.

Transtorno de Desenvolvimento de Linguagem (TDL)

Quando se descarta a presença de síndromes ou patologias, a maioria dos casos de crianças que não têm vocabulário ou forma de falar esperada tende a ser transitória. Estudos dizem que nestas situações o desenvolvimento da linguagem ocorre até por volta de quatro anos e meio. Essa estimativa, no Brasil, pode mudar em razão das condições socioeconômicas das famílias. Uma criança com a saúde perfeita pode ter um desenvolvimento mais demorado por falta de acesso ao tratamento adequado.

Há, entretanto, casos de atraso que possuem diagnóstico de distúrbio de linguagem. Estima-se que de 7% a 10% da população infantil, de um a cinco anos, tem boa compreensão, funções cognitivas preservadas e boa audição, mas não desenvolve a linguagem como o esperado por conta de um distúrbio chamado Transtorno de Desenvolvimento de Linguagem (TDL), de acordo com a fonoaudióloga Amalia Rodrigues.

Os sintomas de um atraso na fala e do TDL, que é mais complexo, são os mesmos. Um especialista só poderá chegar ao diagnóstico após o início do tratamento. No primeiro caso, em até seis meses de intervenção, às vezes também com acompanhamento psicológico, a linguagem da criança começa a despontar.

O TDL é um problema crônico para toda a vida, mas com a intervenção correta é possível fazer a inclusão na sociedade.

Amalia diz que, em ambos os casos, uma das orientações é matricular a criança na escola, caso ainda não a frequente, por conta do acesso a atividades pedagógicas e pelo contato com outras crianças. É orientado a família e a escola que é preciso oferecer estímulos.

A brincadeira é a base cognitiva que vai auxiliar a criança a fazer o desenvolvimento linguístico. Quando ela passa a aprender fora do contexto terapêutico, é um indício de que pode o problema é um atraso, não um distúrbio.

Sintomas de autismo

O atraso na fala pode ser um dos sintomas de comprometimento neurológico ou de transtornos como o autismo. De acordo com a fonoaudióloga Juliana Trentini, são raras as crianças não verbais, só os casos muito severos.

Amalia Rodrigues afirma que hoje há autistas com desempenho excelente na comunicação, e que a tecnologia proporcionou um campo de inclusão grande. É muito comum que esse susto – da possibilidade de um diagnóstico como autismo – mobiliza alguns pais, mas para outros dificulta a busca pela ajuda por medo.”

O neuropediatra explica que antigamente o diagnóstico de autismo era focado na linguagem falada. Agora já há a percepção da linguagem não falada, como o olho no olho e a observação da atenção da criança.

Eletrônicos prejudicam crianças?

Um dos vilões da aquisição de linguagem é a variedade de equipamentos eletrônicos que existe hoje. O contato cada vez mais cedo com televisão, tablets e smartphones pode ser prejudicial para a criança.
O ideal é a criança não ter contato com nada disso antes de dois anos, e depois ter um acesso limitado. Existe, sim, influência porque a tela afeta o desenvolvimento sensorial da criança, e ele é importante para o desenvolvimento da linguagem. A fonoaudióloga ainda explica que esse tipo de tela tem capacidade de “enganar o cérebro”, distraindo a criança e dificultando que aprenda ou se desenvolva durante o contato com os equipamentos.

Antônio Carlos de Farias relaciona o fenômeno do atraso a algumas características sociais. “Há a evolução da mulher saindo de casa para trabalhar, a criança ficando mais tempo na escola, a comunicação se perdeu um pouco.”

Amalia diz que os pais têm tido menos tempo de qualidade com os filhos. “Digo aos pais que as horas que passam com filhos precisam ser de interação, conversa, brincadeira, leitura de histórias e qualquer atividade que tenha a conversa por intermédio são aproveitadas.”

Para o médico, em geral, os atrasos de linguagem são “maturacionais”, e portanto, transitórios, à medida que a criança cresce, se desenvolve e amadurece. Mas também há casos “lesionais” que revelam um distúrbio. “A fala errada, por exemplo, é normal e transitória até os quatro anos. Depois disso é um problema, precisa ser investigado, pode ser um indício de dislexia.”

Fonte: https://bit.ly/2MGCNAQ

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