Leite não faz mal à saúde, concluem autoridades da medicina e da nutrição

Entidades de saúde brasileiras, como a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), emitiram recentemente uma posição destacando a segurança e os benefícios à saúde de alimentos como o leite. O documento, lançado nesta segunda-feira, ressalta a importância histórica do leite na dieta humana e sua adaptação ao longo da evolução para fornecer nutrientes essenciais. 

O cálcio, presente em grande quantidade no leite, é apontado como uma fonte fundamental para a prevenção de doenças ósseas, como a osteoporose, e para a saúde dos dentes. O presidente da Abran, o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, destaca que o leite é um alimento completo, contendo proteínas, carboidratos e gorduras, além de substâncias bioativas benéficas, com propriedades antibacterianas e antivirais, que podem reduzir o risco de câncer. 

O documento, elaborado em resposta a uma solicitação da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV), foi baseado em uma análise criteriosa de pelo menos 114 artigos científicos. Disponível online, aborda diferentes aspectos, incluindo tipos de leite, benefícios para a saúde, intolerância à lactose e a importância do aleitamento materno. 

Um dos pontos destacados é a dissipação do mito da inflamação relacionado ao consumo de leite, com especialistas enfatizando que o leite está presente em dietas consideradas anti-inflamatórias. A médica nutróloga Eline de Almeida Soriano, diretora da Abran, destaca a intenção de esclarecer boatos e destacar a importância do consumo de leite para a população. 

Benefícios para a saúde 

O consumo de leite diminuiu nos últimos anos no Brasil e globalmente, conforme estimativas da ABLV. Diversos fatores contribuíram para essa queda, incluindo o aumento da inflação e dos preços dos produtos, mudanças comportamentais e a disseminação de desinformação. 

A presidente da SBAN, Sueli Longo, destaca que a comunidade médica e científica está atenta às mudanças nos hábitos alimentares dos brasileiros. A exclusão do leite da dieta pode ter impactos significativos na saúde a curto e longo prazo. Sueli enfatiza que essas exclusões muitas vezes resultam de modismos alimentares ou informações sem base científica. 

Ela ressalta as vantagens do consumo de leite, como auxílio no crescimento e na estrutura óssea na infância e adolescência, redução do risco de osteopenia e osteoporose, além de contribuir para a prevenção de doenças crônicas como diabetes e obesidade, problemas cardiovasculares e sarcopenia em idades avançadas. 

Sueli esclarece que não se trata de promover o consumo irrestrito de leite, mas sim de destacar que, dentro de uma alimentação saudável, há espaço para o leite e seus derivados. A intenção é mostrar que esse grupo alimentar desempenha um papel importante na saúde, sem tornar o leite o “melhor ingrediente do mundo”, mas incentivando seu retorno aos hábitos alimentares da população. 

Quem deve tomar? 
Os laticínios são recomendados em diferentes fases da vida, de acordo com diretrizes alimentares nacionais e internacionais. Inicialmente, o aleitamento materno é essencial, sendo recomendado até o sexto mês de vida, com a possibilidade de continuar até os dois anos ou mais para garantir proteína e cálcio à criança. 

A introdução do leite de vaca é indicada a partir de um ano de idade, quando não é possível manter o aleitamento materno, e é recomendada ao longo de toda a vida. Especialistas afirmam que até a adolescência ocorre o pico de formação da estrutura óssea, e a falta desses nutrientes pode comprometer a formação dos ossos, impactando a vida adulta e o envelhecimento. 

As instituições de saúde destacam que, quando não há contraindicações, os profissionais de saúde devem incentivar a inclusão do leite na dieta dos brasileiros. Um copo de leite fornece aproximadamente 244 mg de cálcio e 6,4 g de proteína, o que corresponde a mais de 10% da ingestão diária recomendada desses nutrientes para todas as faixas etárias, conforme indicado no documento da SBAN e da Abran. 

Qual a relação entre leite de vaca e inflamação? 

O documento aborda um dos principais equívocos sobre o leite, enfatizando que não há evidências científicas que comprovem que o produto e seus derivados sejam “inflamatórios”. Pelo contrário, vários estudos indicam que a ingestão de laticínios pode melhorar os biomarcadores inflamatórios em adultos, conforme explica a nutricionista Lara Natacci, membro da diretoria da SBAN. 

Lara destaca a importância de combater informações incorretas, esclarecendo que o leite não causa inflamação, a menos em casos de pessoas alérgicas à proteína do leite, uma parcela pequena da população. Ela se refere ao diagnóstico de Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), uma reação adversa relacionada a um mecanismo imunológico que pode ocorrer em minutos ou horas após a ingestão de pequenas quantidades de leite. 

Nesse contexto específico, é necessário excluir o consumo de qualquer quantidade de leite, seus derivados e produtos que contenham leite em sua composição. 

A intolerância à lactose 

O consumo de leite de vaca não está relacionado a um maior risco de desenvolvimento de intolerância à lactose. A intolerância à lactose, um problema que costuma surgir na fase adulta, possui tratamento e não requer a exclusão total de laticínios da dieta. 

Os especialistas afirmam que há uma relação inversa: quanto maior o consumo de leite, menor é o risco de desenvolver intolerância à lactose. Além disso, a exclusão do leite com base na autopercepção de intolerância, sem confirmação por diagnóstico clínico, pode resultar em prejuízos nutricionais. Para pacientes diagnosticados, geralmente, até 12 g de lactose são toleradas sem causar sintomas. 

O documento destaca que pessoas intolerantes à lactose, dependendo do grau de afetação, podem consumir leite em uma quantidade que se sinta confortável. Além disso, têm a opção de escolher leites sem lactose ou tomar a enzima lactase, disponível em farmácias, no momento do consumo para auxiliar na digestão. 

Fonte: Saúde Abril  

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