Sal rosa do Himalaia, light, refinado: qual o melhor tipo de sal para a saúde?

Nos últimos anos, as seções dos supermercados dedicadas aos temperos, especialmente ao sal, têm apresentado uma variedade sem precedentes. Além do sal refinado (conhecido como sal de cozinha) e do sal grosso, surgiram novos produtos, como o sal rosa do Himalaia, o sal light e o sal hipossódico. 

Em comum, todas essas variedades prometem oferecer benefícios à saúde e ajudar na prevenção ou combate à hipertensão, uma doença muito frequente que está associada a infartos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e morte. 

Mas será que essas alternativas realmente cumprem o que prometem? Especialistas consultados pela BBC News Brasil indicam que, mais importante do que escolher um tipo específico de sal, o essencial é: 

👉 usar o tempero com moderação e prestar atenção aos produtos industrializados que contêm grandes quantidades desse ingrediente. 

Em linhas gerais, o sal light ou hipossódico tem evidências de benefícios à saúde, desde que usado de forma correta. Não se pode dizer o mesmo sobre o sal rosa do Himalaia ou ao sal grosso. Estudos mostram que a quantidade de sódio nesses sais é semelhante à encontrada no sal de cozinha, e não há alterações na pressão arterial quando a pessoa substitui o tipo convencional por esses outros. 

Mas então, quais seriam as diferenças entre alguns desses sais e como usar o tempero sem prejudicar o coração e os vasos sanguíneos? 

Sal de cozinha 

O médico Weimar Barroso, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), comenta com humor que, se o sódio fosse descoberto hoje, provavelmente não seria aprovado para consumo humano. Especulações à parte, o sal é um componente essencial para o funcionamento do nosso organismo. Ele está presente em pequenas, mas adequadas quantidades para nossa saúde, em muitos alimentos de origem vegetal e animal. O sal tem sido utilizado pela humanidade há milênios tanto para realçar o sabor dos alimentos quanto para conservar certos produtos, como carnes e peixes. O nome técnico do sal que todos temos na cozinha é cloreto de sódio, o que significa que ele carrega uma mistura de cloro e sódio. 

🚨 E as estatísticas mostram que nós pesamos a mão na hora de usar esses grãos brancos. Segundo o Ministério da Saúde, o brasileiro consome uma média de 9,3 gramas de sal por dia. 

Enquanto isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece um limite diário de 5 gramas. 

Na prática, isso significa que estamos consumindo quase o dobro da quantidade considerada aceitável pelos especialistas. Weimar Barroso, cardiologista, que também é professor na Universidade Federal de Goiás aponta ainda que o grande vilão é o sódio adicionado nos produtos industrializados. Cerca de 80% desse consumo está nos ultraprocessados ou embutidos, enquanto 20% provêm do sal de adição, aquele que usamos para temperar a comida. 

A nutricionista Camila Cristina da Silva Santos, coordenadora científica do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), lembra que um único tablete de tempero concentrado pronto, desses usados em carnes ou no feijão, possui praticamente toda a quantidade de sódio que uma pessoa deveria comer durante um dia inteiro. 

“E o brasileiro tem naturalmente esse paladar mais acostumado com pratos bem salgados”, observa ela. 

Mas, afinal, por que esse exagero no sal é tão preocupante? Quais os efeitos desse hábito no organismo? 

Barroso explica que o excesso de sódio gera uma série de repercussões, como a retenção de líquidos no corpo. E isso, por sua vez, causa um aumento da chamada volemia a quantidade de sangue em circulação. 

O resultado disso é uma pressão extra e desnecessária sobre as paredes dos vasos sanguíneos o que, no longo prazo, desemboca num quadro de hipertensão. 

“O excesso de sódio também mexe no sistema renina-angiotensina-aldosterona, que tem um papel importante na regulação da pressão arterial”, acrescenta o médico. 

Essa pressão descontrolada pode gerar “machucados” nas paredes internas dos vasos que transportam o sangue pelo corpo. E isso tem o potencial de gerar complicações bem graves e até fatais, como infarto e AVC. 

Sal light ou hipossódico 

O sal hipossódico é aquele que possui uma redução de 50% no teor de sódio do produto final. 

Geralmente, ele é substituído pelo potássio e o tempero fica com metade de cloreto de sódio, metade de cloreto de potássio. 

Há versões com uma diminuição menor na quantidade de sódio. Geralmente, as embalagens delas trazem palavras como “light” ou “rico em potássio”. 

👉 Uma pesquisa realizada na Austrália e publicada no final de janeiro concluiu que pacientes com hipertensão podem de fato ter benefícios com esse tipo de sal. 

No artigo, os autores defendem a ideia de que esse ingrediente faça parte das orientações de tratamento da pressão alta e os médicos passem a sugerir o uso de sal hipossódico (ou rico em potássio) para seus pacientes. 

Embora concordem com a avaliação dos colegas australianos, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam uma barreira e duas preocupações na hora de indicar o consumo deste produto. 

💰 Uma das principais barreiras tem a ver com o preço bem salgado: o sal light ou hipossódico chega a custar o dobro ou o triplo do sal refinado comum. Portanto, para muitas pessoas, pode ser difícil incluí-lo no orçamento mensal. 

As sociedades médicas e o governo deveriam abraçar essa causa e pensar em formas de diminuir o preço do sal com potássio como uma estratégia de saúde pública, afirma Weimar Barroso, cardiologista.  

Outra barreira seria: a forma como esse produto vai ser usado no dia a dia. Isso porque ele salga menos a comida e, para compensar o gosto, a pessoa pode acabar usando uma porção maior dele durante o preparo da refeição. 

Nesse cenário, a quantidade de sódio ficará bem parecida àquela ingerida com o sal comum, sem qualquer benefício à saúde. 

“É muito fácil perder a mão, portanto é preciso atenção para fazer um consumo moderado dessas opções”, constata o nutricionista Luis Gustavo Mota, do Hcor, em São Paulo. 

E agora a barreira é para pessoas que possuem algum problema nos rins. 

“O consumo de potássio para indivíduos com doença renal crônica precisa de atenção, pois o acúmulo desse elemento pode danificar ainda mais esses órgãos que estão mais vulneráveis nesse contexto”, destaca Mota. 

Sal rosa e sal grosso 

Seja por motivos gastronômicos ou de saúde, o sal rosa do Himalaia se tornou uma tendência nos últimos anos, ganhando destaque em restaurantes, mercados e empórios. Ele tem uma coloração rosada e é extraído de rochas salinas localizadas na região do Punjab, no Paquistão. 

Um dos argumentos de quem defende o uso dessa opção é a quantidade de minerais, ferro e cobre na composição dela. 

“Mas trata-se apenas de um sal e é um erro associá-lo a um consumo de micronutrientes, para os quais existem outras fontes mais adequadas”, pondera Silva Santos. 

👉 Além disso, a quantidade de sódio no sal rosa do Himalaia é praticamente a mesma encontrada no sal refinado. 

“Nós temos estudos bem robustos, alguns deles realizados no Brasil, que compararam a pressão arterial e o nível de sódio na urina de indivíduos que consumiam o sal rosa e o sal comum”, detalha Mota. 

“E não foi observado nenhum benefício, como pressão mais baixa ou menos sódio, entre aqueles que usaram o sal rosa”, informa o especialista. 

O mesmo recado vale para o sal grosso: antes uma figurinha carimbada em churrascos, esse tempero ganhou destaque nos últimos tempos por supostamente ter menos sódio que o sal de cozinha. 

“Mas a quantidade de sódio em ambos é semelhante”, desmente Barroso. 

➡️ Sal: seja ele qual for, a palavra-chave é moderação! 

➡️ Seja para prevenir ou para controlar a hipertensão, o segredo está na quantidade de sal que é colocada no preparo da comida. 

➡️ Abolir aquele saleiro que fica na mesa, para ser usado após o preparo dos alimentos, também é uma tática simples e efetiva, dizem os especialistas. 

Fonte: G1 

Share Button

Você pode gostar...

Deixe um comentário