A síndrome de Tourette é um distúrbio de desenvolvimento que se manifesta na infância ou adolescência, caracterizado por movimentos motores e vocais repetitivos, como caretas ou palavras repetidas. Alguns tiques podem ser temporários, enquanto outros permanecem ao longo da vida.
A síndrome de Tourette é um distúrbio que começa na infância ou adolescência e pode estar ligado a outros transtornos, como o de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o obsessivo compulsivo (TOC). Embora não tenha cura, tratamentos podem ajudar a aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
As estatísticas sobre o quadro não são muito precisas, mas sabemos que é uma condição rara. No Brasil, em 2014, foi estimada uma prevalência de 0,43%. Alguns famosos, como a cantora Billie Eilish, o ex-jogador de futebol David Beckham, o cantor e compositor Lewis Capaldi, o ator e comediante Seth Rogen e o lutador Antonio Carlos Júnior, também conhecido como “Cara de Sapato”, do BBB, têm a síndrome. Billie Eilish falou sobre isso em uma entrevista em 2022.
O que é a síndrome de Tourette?
A definição da síndrome de Tourette considera que os pacientes devem apresentar pelo menos dois movimentos involuntários e um tique vocal, não necessariamente ao mesmo tempo.
“Apesar de isso acontecer em poucos casos, chama muito a atenção a compulsão por dizer palavrões. Isso chama-se coprolalia“, afirma Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Esses sintomas podem aumentar e diminuir em frequência, mas precisam ocorrer há mais de um ano para cravar o diagnóstico. Além disso, os tiques devem surgir antes dos 18 anos. Em geral, o transtorno é notado na infância ou adolescência. “É comum que os tiques motores se manifestem antes dos vocais. Os sintomas podem piorar durante a adolescência e persistirem na vida adulta”, afirma o psiquiatra.
As causas da síndrome de Tourette permanecem desconhecidas. Contudo, considerando que os casos podem acontecer em mais de uma pessoa na mesma família, há indícios de que fatores genéticos estejam envolvidos. O psiquiatra da UFRJ afirma que uma segunda hipótese estudada envolve outros processos. “Supõe-se que tanto o transtorno obsessivo compulsivo quanto os transtornos de tiques surjam em algumas crianças como resultado de um processo autoimune pós-infecção por estreptococos [um tipo de bactéria]”, diz Nardi.
Quais são os principais sintomas?
As manifestações da síndrome de Tourette podem levar ao comprometimento psicológico e social dos pacientes. “Os tiques mais comuns são piscar os olhos com frequência, fazer caretas, realizar gestos obscenos, chutar ou soluçar. Os indivíduos também podem gritar, repetir palavras, proferir frases obscenas ou imitar sons de animais”, afirma Geraldo.
O psicanalista e psiquiatra Roberto Santoro, coordenador do Grupo de Trabalho sobre Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), destaca a importância de pais e educadores prestarem atenção para a detecção precoce do transtorno.
“Em geral, é comum que crianças apresentem tiques, como em situações de estresse psicológico principalmente, mas eles não são duradouros, se resolvem sozinhos. No caso da Síndrome de Tourette, esses sinais são bem característicos, o portador não tem controle”, explica Santoro.
Não existe cura, mas tratamento ajuda.
A falta de conhecimento sobre os sintomas da síndrome de Tourette é uma das principais causas de sofrimento para pacientes e familiares. Os gestos e verbalizações involuntários podem surgir em ocasiões inadequadas, como na sala de aula, em uma igreja ou em um velório, por exemplo.
Nesse contexto, uma das primeiras orientações médicas é a conscientização, tanto do acometido quanto das pessoas conhecidas, sobre o que é a síndrome.
Apesar de não curarem, os tratamentos, que podem ser medicamentosos ou não, ajudam a controlar os sintomas. A abordagem mais adequada é definida pelos médicos, de acordo com o quadro clínico e o perfil individual.
“Alguns cuidados são a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), prescrição de remédios, injeção de toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, para os tiques motores, e em alguns casos, pode ser necessária intervenção cirúrgica”, diz Geraldo.
“A psicoterapia cognitivo comportamental pode ajudar ao indivíduo a aprender técnicas de relaxamento, controle parcial dos tiques e do estresse”, completa Nardi.
Fonte: Saúde Abril